Quarta-feira, 24 de Maio de 2006

Tributo a ... Pedro Ferro

Vasculhando o baú de recordações encontrei esta relíquia do meu amigo Pedro Ferro. Estudámos juntos na Escola Industrial e Comercial de Beja durante os anos setenta do século passado. Já aí denotava uma capacidade que não lhe augurava grande futuro no curso que frequentávamos. De facto foi isso que aconteceu e Pedro dedicou-se à escrita. Tinha um dom: o de nos fazer rir com duas ou três palavras. Foi assim que mais tarde se tornou jornalista do Público onde escreveu várias crónicas, todas sem excepção, deliciosas como esta. Depois de sair de Beja encontrei-o por mais duas ou três vezes e a sua boa disposição continuava igual. Até que um dia soube da sua partida.
Éramos um grupo de aproximadamente 30 e convivemos diáriamente durante três ou quatro anos. De Serpa o Manuel Maria, Melo, Correia e o Salgueiro, de Cuba o Calado, Chaveiro, José Domingos e o Canudo, de Ervidel o Emídio e o Valcôvo, de Albernoa o Jaime e o Prego, de Beja o Maltezinho, Correia, Barão e o Mansinhos, do Penedo Gordo o Marques, de Alvito o Sarilho, de Vila Alva o Cerejo, de Vila Nova da Baronia o Tripa, Coelho e o Zé Ricardo, de Ferreira o Ferro mas também havia de Vale Vargo, o Evaristo, e Beringel e outros que agora não recordo.
Tenho uma fotografia do grupo oferecida pelo nosso professor e amigo Togeira (lembram-se dele?, o hippy que vivia na Vidigueira, tinha um carro sem fundo e que nos deixou em direcção à Índia de boleia) que um dia aqui deixarei.
Pedro, peço-te desculpa se isto não está bem escrito, até parece que te estou a ouvir dizer "isto está uma porcaria", mas quem tinha o dom eras tu.
Para todos um abraço do amigo da Baronia.
 
“Não há feira como a de Castro”
"Na última grande feira alentejana antes das sementeiras e da safra da azeitona, em Castro Verde, entre a planície e a serra, ela é o cruzamento de um tempo já passado com outro que está para vir. Não há feira que se lhe iguale.
É uma peregrinação de gente rústica. Este fim-de-semana, como há centenas de anos, Castro Verde foi o templo da rusticidade descida dos montes isolados das serranias de Almodôvar e Ourique. Vieram em excursões e trouxeram farnel.
Campaniços lhes chamam no vestir e no falar. Campaniços no cantar e no modo desconfiado como olham as gentes da planície.
Mas aqui, no largo da feira, todos se cruzam. Ou não estivesse Castro Verde no ponto exacto onde a planura acaba e a serra começa. Encruzilhada de lugares, de gentes e de tempos.
A uns e a outros a feira a feira abastece para o Inverno, a insinuar-se no arrefecimento das noites e na névoa das madrugadas.
Aqui se compram os samarros de pele de ovelha para agasalhar os pastores, a aguardente de medronho e os figos passados para aconchegar os estômagos nos longos serões à volta do lume.
A ervilha de semente, a castanha e a noz fazem aqui o seu aparecimento. Ao longo das barracas, os tendeiros estendem sacos de grão e de feijão seco, réstias de alhos, frascos de mel, queijos de ovelha, linguiça.
Aqui se vendem os instrumentos que os próximos trabalhos agrícolas reclamam: escada, e varejões , alcofas de esparta e cabanejos , tudo para a safra da azeitona. Mais adiante são as barracas das botas grosseiras de cabedal, resistentes para quem vai lançar a semente à terra. Mais além, a um canto da feira, objectos de um tempo outro, próprios de lugares onde o isolamento corta ainda o passo às importações da cidade: mesas de tampo largo para o alguidar da amassadura , tábuas de tender, tabuleiros e arcas para o pão feito em fornos de lenha nos montes da serra.
Na feira de Castro o edredão enlaça-se com a manta de lã, tecida manualmente. O plástico dialoga com a olaria artesanal, tal como o engenheiro das minas Neves-Corvo conversa com o pastor e o cigano.
Talvez neste diálogo resida, afinal, a saúde de uma feira que, velha de séculos, conserva o vigor da mocidade.
No sábado, a par da feira, decorreu em Castro Verde um encontro de cantares alentejanos. “A planície a cantar” – assim se chamou a iniciativa – fez desfilar pela vila mais de 30 grupos corais, muitos deles provenientes da comunidade alentejana da grande Lisboa. Cantaram a planície e o trabalho, a festa e o amor. Vozes graves, saídas do ventre da terra, a povoar de lamentos e sonhos uma feira que não é só saudade.”
Pedro Ferro
Público, 23 de Outubro de 1991.
sinto-me: maravilhado
música: silêncio
publicado por Andando de raboleta às 17:40

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1 comentário:
De Andando de raboleta a 16 de Julho de 2006 às 23:07
Aqui fica mais um nome: o Laféria de Serpa

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